Feira em Apucarana incentiva a preservação da semente crioula
Apucarana recebeu nesta quinta-feira (10/11) a 7ª Feira das Sementes Crioulas, que são aquelas repassadas de geração para geração. A atividade, realizada no Sítio Kuatijuba, na Comunidade Rural do Barreiro, foi uma realização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apucarana (STR) em parceria com a Secretaria Municipal da Agricultura, Senar, Fetaep, IDR-Paraná, UEL, Neagro e Rede Ecovida.
Voltado a agricultores familiares, técnicos agrícolas e estudantes, o evento contou com palestras e atividades de campo. “Uma grande iniciativa, que tem pleno apoio do município pois promove o resgate de variedades de plantas originárias, que até poucos anos atrás eram cultivadas por nossos antepassados mas que, muitas vezes devido ao avanço da agricultura moderna, foram perdidas por grande parte dos produtores Brasil afora”, disse o vice-prefeito de Apucarana, Paulo Sérgio Vital, que esteve no evento representando o prefeito Júnior da Femac. “A manutenção das sementes crioulas garante a preservação da biodiversidade”, argumenta Vital.
Além da agenda técnica, a feira contou com uma pausa para troca de semente entre os participantes. O gerente-regional do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Romeu Suzuki, informou que o evento em Apucarana está em consonância com o planejamento do Governo do Paraná, que visa aumentar a produção agrícola com sementes crioulas, ou naturais, em todo o Estado até o ano de 2030. “O Governo mantém um trabalho muito forte no fomento da agricultura familiar e esta feira técnica está alinhavada com os objetivos do IDR, que é a multiplicação das sementes naturais visando a promoção da agricultura agro-ecológica e orgânica em todo o Estado”, acentua Suzuki.
O chefe regional do IDR explica que entre as vantagens da semente natural estão a durabilidade e resistência. “Sem contar o padrão de sanidade, que é fundamental na produção agrícola. Movimento como este, realizado em Apucarana em prol da multiplicação da semente crioula, é primordial para a garantia futura de sementes viáveis”, complementa. Segundo ele, a produção de sementes modificadas em laboratório atingiu tal nível, que muitas empresas hoje “produzem” sementes estéreis. “Sem a manutenção de banco de sementes de genética natural, mais à frente poderemos não ter mais sementes para plantar”, alertou.
Atuando há décadas no campo da agroecologia e preservação ambiental, o agricultor apucaranense João Carneiro esclarece que sementes crioulas são oriundas de plantas originárias típicas de determinada região. “Variedades de feijões, favas, arroz e outras cultivares, cuja multiplicação é fundamental para a segurança alimentar”, avalia. De acordo com ele, a manutenção de um banco de sementes crioulas não visa competir com a produção moderna, realizada com sementes geneticamente melhoradas em laboratório. “Entendemos que a cultura com sementes modificadas em laboratório é mais lucrativa, ágil e necessária, mas como agroecologista julgo extremamente necessário que se mantenha um banco de dados de sementes crioulas para, se preciso, tenhamos como recorrer à genética original no futuro”, diz.
O agroecologista relata que no Paraná, os maiores bloco de preservadores de sementes crioulas estão em Curitiba e em Foz do Iguaçu, e detalha como é cultivar sementes crioulas. “A agroecologia não é imediatista, mas é muito prazerosa. É um processo demorado, que tem início com o carinho no preparo do solo, no cuidado com a semente e com o plantio. É muito satisfatório no final saber que está colaborando para a preservação da natureza e que está produzindo um alimento saudável, livre de agrotóxicos”, pontua Carneiro.