Paraná completa dois anos do status de área livre de febre aftosa sem vacinação neste sábado
O reconhecimento internacional do Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação completa dois anos neste sábado, 27 de maio. Em 2021, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) concedeu ao Paraná, por meio da chancela ao bom trabalho de sanidade agropecuária, uma credencial para abrir mercados para as proteínas animais produzidas no Estado, com a possibilidade de comercialização a países que pagam melhor pelo produto.
Dois anos depois, o Estado chega na marca de 2 milhões de toneladas de carnes exportadas pela primeira vez na história e R$ 9 bilhões em investimentos privados nessa cadeia, projetando o futuro do crescimento da produção e comercialização de peixes, aves, bois, suínos, perus, ovos, leite e derivados, entre outros.
A conquista é fruto de mais de 50 anos de trabalho e parceria entre iniciativa privada, entidades representativas do agronegócio e governo estadual. Da mesma forma, a união foi fundamental para a classificação como zona livre de peste suína clássica independente, confirmando o Paraná fora de um grupo atualmente formado por 11 estados, o que garante maior proteção internamente e vantagens sanitárias aos produtores locais no mercado internacional.
“Chegamos ao mais alto grau de qualidade sanitária do planeta, com a garantia de segurança alimentar. Todo mundo que fala de comida, fala necessariamente com o Paraná”, destacou o governador Carlos Massa Ratinho Junior. “A certificação é vitória de várias pessoas, públicas ou não, e construída por várias mãos. Nossa missão agora é que isso se reverta em empregos e crescimento econômico”.
Para o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, o Paraná, que já não vacina o rebanho desde 2019, mostra ao mundo uma estrutura produtiva mais desenvolvida e sadia, com um serviço de inspeção sanitária de qualidade. “Todo esse esforço se refletiu em novos negócios e na geração de empregos, que foi o motivo para lutarmos por essa chancela. O aumento na produção, com a expansão de novas plantas e abertura de mais turnos, significa mais gente trabalhando, o que tem sido decisivo para o desenvolvimento dos municípios”, arrematou.
“Essa era uma notícia esperada há mais de 50 anos pelo setor produtivo e agora já estamos há dois anos ampliando o trabalho de fiscalização e conscientização”, disse Otamir Cesar Martins, diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). “Esse trabalho passou por diversas etapas nas últimas décadas e alcançamos o momento ideal, sem vacinação”.
MUITO TRABALHO – A história desse status remonta há décadas. Até 1979 não houve grande progresso no controle da enfermidade no Brasil e chegou-se a constatar, naquele ano, 1.436 focos da doença no Paraná. No início dos anos 80, a vacina ainda não estava totalmente assimilada e os focos da doença se multiplicavam.
A melhoria nas vacinas, que passaram a aquosas e, logo depois, a oleosas, foi acompanhada de um aumento sucessivo da confiança dos produtores na utilização. As campanhas de vacinação começaram a ser feitas duas vezes ao ano, justamente para evitar a disseminação dos casos. Os focos reduziram, o controle do trânsito melhorou e o Brasil começou a expandir o comércio.
Com o tempo, o percentual de vacinações saltou de cerca de 30% para 95% – marca alcançada até as últimas campanhas. A chegada dos anos 90 trouxe a obrigatoriedade de os produtores vacinarem os rebanhos, o que foi reforçado, em 92, com o programa nacional de erradicação da doença. Em 1995, após novos focos no Estado, o setor se mobilizou e, com a cooperação entre os diversos atores do processo, foi criado o Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (Fundepec) para promover o desenvolvimento e aperfeiçoamento da pecuária e defesa sanitária.
Com o desenvolvimento do Estado, o avanço tecnológico nas propriedades e a mudança no perfil do pecuarista, que passou a mirar com mais atenção o mercado exportador, a vacinação dos rebanhos virou rotina. Parte da estratégia para universalização da prática foi o fomento para criação dos Conselhos Municipais Sanitários Agropecuários, decisivos no combate à doença.
O último foco da doença foi em 2006, mas as campanhas continuavam. Em dezembro de 2011, a defesa sanitária vegetal e animal ganhou em agilidade e profissionalismo com o surgimento da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). Vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a entidade autárquica passou a ter patrimônio e receitas próprias, além de autonomia administrativa, técnica e financeira para realizar os trabalhos de fiscalização.
Com o olhar voltado para o mercado internacional e o avanço de outros métodos de controle sanitário, a vacinação passou a ser uma barreira para um desafio superado. Com o trabalho junto ao Ministério da Agricultura e organismos internacionais, a imunização contra a aftosa foi interrompida em 2019 no Paraná e a campanha de vacinação, que acontecia duas vezes por ano, foi substituída pela de atualização de rebanhos. Atualmente o cadastro é obrigatório para garantir a rastreabilidade e a sanidade dos animais.
Isso só foi possível graças a um extenso inquérito epidemiológico, com coletas de amostras de sangue de quase 10 mil animais em 330 propriedades rurais, provando que o vírus já não circula no Paraná. Para fiscalizar a produção e as fronteiras e divisas, foram incorporados, em 2021, 25 médicos veterinários e 13 técnicos de manejo e meio ambiente à Adapar. Também foram contratados 34 técnicos agrícolas por meio de PSS. Outros seis veterinários foram incorporados em março e este ano um novo concurso vai contratar mais 55 técnicos, 37 agrônomos e 18 veterinários.
Agora, está em andamento a nova campanha de cadastramento, que vai até o final de junho. Os índices de apoio são elevados graças ao trabalho de conscientização e apoio do setor produtivo para que o Paraná siga aumentando a produção e reafirmando sua posição de maior produtor de proteína animal do Brasil.