Da periferia à magistratura: conheça o juiz do PR diagnosticado com autismo

 Da periferia à magistratura: conheça o juiz do PR diagnosticado com autismo

É comum julgar que a pessoa com o TEA está sujeita a uma vida solitária e sem realizações. No entanto, os estudos e a própria história confirmam que os autistas são capazes de ter uma vida cheia de sucesso. O relato do juiz ainda mostra que as pessoas podem conviver por anos com as características do espectro sem receber o diagnóstico.

Fulgoni sempre foi dedicado aos estudos e passou no primeiro concurso aos 17 anos. Em contrapartida, era de poucas amizades e relações sociais complicadas, uma das principais características do autismo. Ele disse que durante a pandemia teve crises de depressão e percebeu que precisava de ajuda de um especialista. Depois de alguns tratamentos com psicólogo e psiquiatra, recebeu o diagnóstico do TEA.

“De repente, todas as dificuldades que tive na vida estavam explicadas no diagnóstico. A preferência por determinadas comidas e roupas, a dificuldade de interagir com as pessoas, finalmente tiveram uma explicação. Foi algo libertador porque tirei o peso do julgamento que eu mesmo fazia contra mim. Eu entendi que sou diferente e passei a me entender e respeitar”, expressa.

O magistrado também explica que há diferentes níveis de suporte do transtorno autista. Ele está incluso em um nível que não precisa de suporte de terceiros e tem condições independentes, mas ainda assim está dentro do espectro como outros autistas que apresentam diferentes características e sintomas.

Depois de ser surpreendido com os resultados dos exames, o medo de não ser aceito era recorrente. Na época, ele já estudava para a magistratura. “Eu pensava, erroneamente, que o autismo era sinônimo de incapacidade. Tive receio de não ser aceito para juiz. Eu não tinha medo das provas, mas sim da avaliação psicológica”, declara.

Por incentivo dos médicos, Fulgoni prosseguiu com os estudos. Em 2015 começou a exercer o cargo de Oficial de Justiça e em 2019 assumiu o cargo de juiz, aos 36 anos, na comarca de Bela Vista do Paraíso (a 190 quilômetros de Paranavaí). Ele comemora o acolhimento e apoio recebidos no Tribunal de Justiça.

“Por mais que fosse uma vida difícil eu nunca deixei de sonhar. Tive uma infância muito pobre e vivenciei fases difíceis, mas persegui todos os meus sonhos. Quando você acredita, alcança lugares ainda melhores do que imaginava”, finaliza.

Nesta segunda-feira (3), Luís Ricardo Fulgoni ministra uma palestra, no Centro de Convenções na Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Paranavaí. O encontro ocorre a partir das 19h30, com o tema “O autismo na vida adulta e os desafios na formação acadêmica e profissional”. O objetivo é falar sobre o transtorno e as percepções da pessoa neurodiversa. “Sinto que tenho o dever de exercer meu lugar de fala enquanto autista adulto com atuação plena no mercado de trabalho”, conclui.

Fonte: Portal da Cidade Paranavaí

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