Colégio indígena de Manoel Ribas ganha quadra coberta e novo espaço de cozinha e refeitório
Os quase 750 estudantes do Colégio Estadual Indígena Cacique Gregório Kaekchot encontrarão uma escola renovada quando o ano letivo começar. A instituição de ensino, situada dentro da Terra Indígena Ivaí, no município de Manoel Ribas, na região central do Paraná, ganhou um prédio adicional, que abriga refeitório, cozinha, banheiros e área de serviço, e também quadra e passarela cobertas.
Concluídas em 10 de janeiro, as obras de ampliação contemplam uma área total de pouco mais de 1.100 metros quadrados e correspondem a um investimento de R$ 2,3 milhões. Os novos ambientes permitirão a melhor organização do espaço de armazenamento e preparo de alimentos.
Além disso, também há áreas maiores para que os estudantes, que são da etnia kaingang, possam consumir a merenda, conversar durante o intervalo e praticar diversas modalidades esportivas protegidos do sol e da chuva.
“Agora, a gente tem um espaço novo, que atende o grande contingente de alunos que temos. A nossa expectativa é a melhor possível para o início do ano letivo, com as crianças circulando, tendo um espaço adequado para comer, para praticar atividades físicas. Assim, a escola se torna mais atrativa para elas”, afirma a diretora do colégio, Cristiane Laureth.
Adiel Pereira Santiago (17), aluno do 3º ano do ensino médio na instituição, tirou um dia das férias escolares para conhecer o espaço e jogar futebol com dois amigos na nova quadra. “Todo mundo sonhava com uma quadra na escola e agora temos aí, para treinar para os jogos e se divertir. Não vou aproveitar muito, porque é meu último ano, mas as gerações que estão vindo aí vão aproveitar bastante”, diz o estudante, lembrando-se de seu irmão mais novo, de 9 anos.
Morador da comunidade indígena, ex-aluno da escola, professor nela há 17 anos e, a partir de 2023, diretor auxiliar, Márcio Kublite também se mostra contente com as mudanças no colégio, tão diferente agora do que era na sua época de estudante. “A trajetória da escola sempre foi difícil. Sofria bastante para vir. Mas, hoje em dia, está tudo moderno. Dá gosto de ver essa escola”, comenta.
O líder da comunidade, cacique Domingos Zacarias, conta que promoveu conversas com mães e pais dos estudantes, para explicar as novidades. “Eu e a direção estamos felizes. É para melhorar e fazer a diferença na educação”, diz.
MATRIZ CURRICULAR – O novo ensino médio paranaense, implementado desde 2022, prevê disciplinas específicas na matriz curricular dos colégios estaduais indígenas. No 2º ano do ensino médio, os estudantes vão cursar um itinerário formativo que integra as quatro áreas do conhecimento — Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Dentro desse itinerário, haverá as disciplinas de Saúde Coletiva e Vida de Qualidade (dentro da área de Biologia), Cultura Corporal Indígena (dentro de Educação Física) e Filosofia Indígena. O conteúdo é voltado às demandas das comunidades, com o objetivo de preparar o aluno não só para o mercado de trabalho e ensino superior, mas também para atuar em seu próprio entorno.
Além do conteúdo do itinerário formativo e das demais disciplinas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), os estudantes também têm aulas de sua língua indígena materna desde o início de sua trajetória escolar.
A diretora Cristiane Laureth considera que a nova matriz contribui para a manutenção dos aspectos culturais. “É uma forma de revitalização da cultura indígena”, declara. “É um ganho para as comunidades, que terão um currículo voltado para elas. Um currículo que a gente pode flexibilizar e que esses jovens terão a oportunidade de aplicar aqui dentro, em prol do crescimento das próprias comunidades e deles, enquanto jovens atuantes e protagonistas no ensino médio”.